As alterações climáticas afetam tudo e todos, independentemente de quem seja, o que faça e em qualquer lugar. Cada vez mais, parece que das quatro estações do ano, perdemos duas delas: o Outono e a Primavera.
Passamos de um frio extremo para um calor abrasador, de cheias para seca extrema, enfim, cada vez é mais difícil prever como vai estar o tempo, a médio prazo: entenda-se no mínimo com uma semana de antecedência.
Para nós, motociclistas, planear viagens longas e fora da nossa zona de conforto está a tornar-se um desafio ainda maior: quando ir, para onde ir e que equipamento usar?
Estamos perante uma mudança de paradigma no que se refere a planear viagens de verão ou de inverno.
Como relatei noutro texto, nas nossas viagens, já nos deparámos com fenómenos extremos na estrada, em que felizmente tivemos oportunidade de parar e esperar que aquela situação passasse, pois geralmente estas são muito violentas, ainda que curtas. Mas outras situações houve em que era autoestrada de montanha, sem áreas de repouso ou de serviço, e tivemos que continuar.
Claro que adaptamos a nossa postura às condições da estrada, e a experiência tem o seu papel determinante na minimização do risco, mas para fenómenos extremos, medidas extremas! PARAR!
Daí que eu entenda que teremos de ter uma maior flexibilidade nos nossos planeamentos, a bem da nossa segurança.
Já este ano, neste mês de junho em que escrevo mandou a prudência cancelar uma viagem planeada há alguns meses. Poucos dias antes de sairmos, as condições meteorológicas ficaram adversas por essa Europa fora, com alertas laranja de trovoadas e chuva forte em vários locais do trajeto, assim como vento forte e possibilidade de granizo.
O exponencial aumento do risco, associado a uma diminuição óbvia do prazer no desfrutar da viagem, fizeram com que a razão se sobrepusesse ao coração.
Há sempre aqueles que dizem: eu vou sempre, nem que “chovam canivetes”. Uma coisa é sabermos que, apesar da previsão meteorológica ser favorável, existe sempre uma certa incerteza associada à actual instabilidade frequente do tempo, que poderá afetar o decorrer da viagem. Outra coisa, é saber que está prevista a ocorrência de uma tempestade, e sair de mota na mesma.
Da minha experiência pessoal, tendo sempre a equacionar o facto de que, por si, a vida já tem tantos desafios e riscos que temos que correr, que não faz sentido acrescentar mais alguns, simplesmente por prazer! É quase antagónico.
Tudo isto nos obriga a ter abertura de espírito para ser o mais flexíveis possível.
Quer do ponto de vista do planeamento, quer da forma como encaramos o viajar de mota, temos sempre várias opções, decorrentes da situação com que nos deparamos:
– Cancelar ou adiar a viagem;
– Ajustar o trajeto, de acordo com as previsões meteorológicas;
– Acrescentar ao nosso planeamento mais um ou dois dias de viagem, para o caso das piores previsões se confirmarem e termos de permanecer mais tempo num local ou parar mais vezes.
É a flexibilidade e abertura de espírito face ao atual paradigma da (im)previsibilidade das condições meteorológicas, que nos permitirá continuar a desfrutar da nossa paixão, privilegiando SEMPRE a segurança.
Boas curvas e boa viagem