“Regras de ouro” do Motociclista

Estas são algumas regras que identifiquei ao longo de 34 anos de motociclista, que observo quando conduzo a minha mota, e que já me ajudaram a evitar “males maiores” em situações de perigo provocadas pelo meio em que circulamos, ou pela conduta de quem connosco se cruza na estrada.

São assim tão só ensinamentos pessoais, fruto de situações experienciadas e não retirados de um qualquer livro ou manual.

Como não existe nada entre o motociclista e o meio que o rodeia, toda a prevenção é pouca para minimizar os riscos, quando circulamos.

Obviamente não há regras de Lei a cumprir no que se refere a conduta de segurança, além das que constam no Código da Estrada, mas sim regras “criadas” pela experiência que, ao longo de muitas centenas de milhares de quilómetros percorridos, levaram a identificar alguns detalhes a ter em atenção, que podem fazer a diferença numa situação de perigo inopinada.

Independentemente das condições atmosféricas ou da distância a percorrer, NUNCA circulo sem capacete (obrigatório por lei), calças (mesmo só jeans), luvas e blusão. Se for uma viagem longa, não prescindo do fato completo com as suas proteções. Em caso de queda, mesmo devagar, as mãos, joelhos e cotovelos vão sempre ao chão.

Devo referir igualmente, que há cuidados a ter quando se anda sozinho, e há outros a acrescentar a estes quando se anda em grupo.

“Regras” a Solo

– Quando circulo no verão, ou com tempo quente, evito sempre pisar pavimento molhado. Estando tempo quente, não é natural um líquido no alcatrão. Assim sendo, existe uma forte probabilidade de não ser água, mas sim combustível ou óleo. (Também observo esta regra quando circulo de automóvel, e já me foi igualmente muito útil);

– Numa curva apertada, por exemplo num acesso a uma autoestrada ou viaduto, devemos ter atenção redobrada ao pavimento, especialmente se for tempo de chuva. É que com tempo seco, observamos a regra anterior e assim estaremos mais protegidos, mas se o pavimento estiver molhado, a atenção redobrada poderá permitir identificar combustível ou óleo através das típicas “linhas” coloridas que o reflexo destes produtos produz no alcatrão;

– Se tivermos de circular na mesma linha que a mota da frente, deveremos dar uma distância maior pois se nossa roda da frente toca na roda traseira da mota precedente, é muito provável que caiamos os dois. Devemos sempre tentar circular “desencontrados” (xadrez) da outra mota;

– No trânsito citadino, ao ultrapassar um automóvel numa fila, tenham sempre a certeza de que o condutor do automóvel os viu, pois assim poderão evitar uma manobra de mudança de direção dele, quando vão a passar. Mas quando eu digo “ter a certeza de que vos viu”, não quero dizer que, como alguns, passem todo o trajeto a buzinar. Isso não faz sentido pois se por um lado, numa fila de trânsito nós de acordo com o Código da Estrada, não podemos circular entre automóveis, por outro lado os automobilistas não são “obrigados” a se encostar por forma a nós podermos passar;

Da minha experiência a conduzir todos os dias no trânsito a caminho do trabalho com uma mota grande (mesmo sem as malas laterais), sempre que eu não conseguia passar, parava sem ter qualquer atitude de desagrado. Normalmente passado pouco tempo, o automóvel à frente começava a manobrar para me criar espaço para passar. Nestas situações, eu AGRADEÇO SEMPRE;

– A regra anterior também se aplica, e ainda com mais enfase, às outras motas. Se não se veem e por qualquer razão os guiadores se tocam … é queda certa;

– Se um automóvel (ou mota) circula demasiadamente devagar e/ou o condutor está a olhar em redor, é muito provável que vá fazer uma qualquer manobra de mudança de direção ou para estacionar, e que esta ação irá ser rápida, e muito provavelmente sem fazer o pisca necessário;

– Quando estiverem a ultrapassar numa autoestrada, na faixa da esquerda, circulem sempre ao meio ou mais á esquerda, pois já isso evita alguém nos ultrapassar entre a mota e o separador central (já me aconteceu com um automóvel !);

– Se num semáforo ou num cruzamento, pararem á frente de um automóvel, não fiquem com a mota oblíqua em relação ao automóvel, pois se ele arrancar antes de vós e vos tocar de lado, a mota tomba logo lateralmente. Se for numa descida, outra coisa poderá também acontecer (já me aconteceu a mim). O condutor do automóvel pode inadvertidamente deixa a viatura descair, ainda que muito devagar e não se apercebe. Vai começar a “empurrar” a mota, só que como é lateralmente e os pneus não escorregam, vai tombá-la;

– De noite, com pouco trânsito, eu evito circular na faixa da direita, numa autoestrada. A probabilidade de haver detritos na via, desde carga caída, restos de pneus rebentados ou placas de metal a cobrir trabalhos em execução, é muito elevada e se não for ninguém à frente, nada nos alertará para isso e a iluminação poderá não ser suficiente para vermos o obstáculo à nossa frente;

“Regras” em Grupo

Quando circulamos em grupo, entenda-se por grupo, duas ou mais motas, além das regras descritas acima para quando circulamos sozinhos, há ainda outras a ter em atenção.

Há, para mim, duas grandes diferenças na forma como vivenciamos e experienciamos a viagem em grupo.

Uma diferença é que além de nós na mota, partilhamos a viagem com mais alguém noutra ou noutras motas.

Outra diferença é que este partilhar, além do prazer e do desfrutar do momento, também implica que partilhamos o cuidado, os alertas e o apoio a quem connosco circula.

– Devemos tentar criar sempre uma coluna em xadrez, pois dá mais espaço e permite que numa travagem de emergência a mota de trás pare ao lado da que a precede;

– No caso de identificarmos um perigo na estrada em que circulamos, devemos alertar a mota que nos segue. Isto será feito na altura em que nos desviamos desse perigo, apontamos com o pé do lado em que este se encontra; (este procedimento deverá ser imitado por todos os elementos da coluna e assim mitigar o perigo identificados para todos aumentando de forma exponencial a segurança dos elementos desse grupo) ;

– Devemos sempre respeitar o lugar na coluna de motas que integramos;

– Não deve haver ultrapassagens no trajeto entre elementos do grupo, pois se isso começar a acontecer, o tipo de condução muda, a preocupação aumenta exponencialmente e o prazer do passeio ficará para segundo plano;

– A ordem da marcha deverá ser sempre, inserir na coluna as motas menos potentes e/ou com menos autonomia, logo a seguir ao fila-guia (desta forma, tanto a velocidade média é mais adequada, como a escolha dos locais de abastecimento é mais visível para todos. Param todos e abastece quem precisar);

– Se por uma qualquer razão a coluna tiver de parar, o fila-guia deverá ter em atenção o numero de motas que o segue e escolher um espaço apropriado, para garantir que todos conseguem parar em segurança (exceto se for uma emergência). Esta é uma das situações potencialmente mais perigosas quando se viaja em grupo.

– Para que não haja quaisquer duvidas na conduta a observar, em qualquer passeio em grupo, no local em que nos reunamos deverá ser dado um “briefing” a explicar o que se irá passar, tipo de trajeto e/ou pontos de maior perigo e quais as regras de comportamento no deslocamento, para maximizar a segurança de todos.

Vai em segurança.

Boas curvas.