O EFEITO MAGNÉTICO

Quando circulamos aos comandos das nossas motas, há situações que nos marcam e nunca mais esquecemos. E não estou a falar das que ficam na memória pela negativa. Essas deverão ser usadas para efeitos de aprendizagem e alerta.

Não, estou-me a referir aos bons momentos e situações que nos deixam com um sorriso na cara no momento em que acontecem, e também de cada vez que as recordamos.

Neste âmbito, o efeito magnético que as motas têm sobre as crianças, proporcionam momentos por vezes inesquecíveis.

É rara a vez em que, circulando numa qualquer estrada ou rua, se houver uma criança por perto, ela não vire a cara na nossa direção, faça um vigoroso aceno ou um largo sorriso apontando para nós. É um encantamento súbito que parece não ser capaz de largar.

Quando isto acontece, NUNCA DEIXO DE CORRESPONDER retribuindo com satisfação e que a reação foi notada.

Ainda mais envolvente é quando a mota está estacionada e querem subir para o lugar do condutor. Primeiro vem a vontade, depois a apreensão e finalmente o desfrutar com a tentativa de colocar as mãozinhas nos punhos. Não raras são as vezes que os tenho que sentar no depósito para que assim consigam lá chegar.

Quando já são mais crescidos, se ligarmos o motor e damos umas aceleradelas, é o êxtase total.

Pesquisei para tentar encontrar explicações mais fundadas para este fenómeno de atração (com os carros não acontece assim).

Talvez o estímulo ao ruído possa ser o “gatilho” que provoca a reação. Mas encontrei num texto uma ideia que considero muito curiosa e que, na minha opinião poderá fazer sentido. Pelo facto de nós motociclistas, andarmos de capacete, luvas e muitas vezes fato, as crianças associarem-nos à imagem dos super-heróis que tanto vêem nas animações.

Sempre que troquei de mota nestes últimos anos, das primeiras pessoas a se sentarem no lugar do condutor e do pendura, foram as minhas sobrinhas. Desde os 2 anos de idade, e até hoje com 13 e 15 anos, sempre assim foi. Quem sabe, a partir de agora, quererão também dar uma volta.

Mas nestas idades, muitas são as vezes em que os pais dizem: “Nem penses, por mim nunca terás uma mota !” Torna-se assim o fruto proibido e, claro que é sempre o mais apetecido.

Recordo-me que o meu pai, na sua juventude (inicio dos anos 60) teve uma mota (BMW R60) e ele dizia-me que “a melhor mota é pior que o pior carro … nem penses, por mim nunca terás uma mota!”

Felizmente atualmente não é assim, com todos os sistemas de apoio à condução e de segurança de que dispomos, temos por vezes tecnologia ao nosso dispor que, num automóvel, só se for um modelo topo de gama. No entanto, nenhum sistema substitui a “cabeça no lugar”, a ponderação e o bom senso quando estamos a conduzir.

Estas interações inopinadas são também oportunidades para explicar, desmistificar e alertar para os perigos inerentes à condução de um motociclo aos futuros adolescentes e adultos.

Entendo, pois, que temos uma responsabilidade acrescida na formação e educação das daqueles que poderão vir a ser futuros motociclistas.

Sendo um motivo de curiosidade e atração espontâneos, a nossa postura, simpatia e recetividade deverão estar à altura daquilo que é o verdadeiro espírito motociclista.

Boas curvas