Quando iniciamos uma atividade, devemos ter em mente qual o objetivo final desse projeto. Isto aplica-se a qualquer área de atividade. Mas normalmente, se a evolução for grande, mais tarde ou mais cedo vamos ter de optar, se queremos que o produto da nossa área de negócio/atividade seja de excelência (único/diferente) ou de massificação (bom).
Pretendemos ser os melhores no nosso nicho de mercado, ou ser simplesmente mais um a comercializar o mais possível?
No nosso mundo das duas rodas, eu lembro-me do prazer que me dava, ao final do dia no regresso a casa, por vezes parar no concessionário onde costumava comprar as motas e beber um café por entre dois dedos de conversa. Via as novidades, discutia os detalhes e a ligação/fidelização ia sendo aprofundada.
Muito aprendi com aqueles profissionais incluindo no apoio à escolha tanto do tipo de mota como do modelo mais adequado ao tipo de utilização que iria dar. Com o passar dos anos, tornaram-se amigos. Entretanto mudei de cidade e acabei por encontrar um concessionário que também prima pela excelência, onde se pode ter uma boa conversa e troca de ideias.
O facto de as marcas estarem a padronizar os concessionários vem sobrevalorizar imenso o investimento de cada um, não na apresentação pois são todos quase iguais, mas no que eu entendo como ser o fator diferenciador da excelência e da fidelização de clientes: os recursos humanos.
Oferta há muita, mas o cuidado no atendimento, a proximidade e a honestidade são fatores diferenciadores. É no detalhe que se faz a excelência.
Em relação a eventos, tínhamos no nosso país um acontecimento único na Europa, havendo quem dissesse, único no mundo. Fazer um percurso de 24 horas em cima da mota, a navegar por road-book em equipas de duas motas. Fi-lo quatro vezes. Experiências inesquecíveis! No primeiro, como para toda a gente, era a dúvida se conseguiria aguentar o desafio. Nos seguintes foi o desfrutar com grupos de amigos, noutras equipas.
Mas com o passar dos anos, veio a massificação que alterou por completo os pressupostos de um evento singular, pelo menos no motociclismo europeu. A excelência da organização optou por dar uma dimensão enorme ao evento, diminuindo os riscos com as alterações introduzidas, nomeadamente não conduzindo de noite, em detrimento do que o diferenciava e tornava único.
A maior concentração motociclística europeia, Faro, foi sempre um exemplo de cooperação entre as mais diversas entidades, mas quando os recursos são finitos, as ofertas não podem ser infinitas, sob o risco de colapsar. É cada vez maior, mas…
Temos em Portugal continental e nas Ilhas (Madeira e Açores) inúmeras coisas Únicas, nas mais diversas áreas, e não é só o Sol e a praia! Para assim continuarem, devemos preservá-las e apresentá-las com o detalhe e cuidado que merecem, primando pela excelência e exclusividade.
Todos têm o direito de usufruir, mas a massificação pode fazer tábua rasa daquilo que é Único e Diferente, podendo mesmo deixar de existir. O equilíbrio poderá não ser fácil. Mas, o que o tempo nos tem dito é que as coisas baseadas nos princípios da excelência têm tendência para perdurar mais no tempo.
Boas curvas